Icambalacho

Grupo de teatro criado pelo Instituto de Cultura, Arte e Música de Brasília- ICAM!!!!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Noticias do mundo da arte.

"Essa é pra tocar no Rádio" (*)

Essa é pra vencer o tédio
Quando pintar
Essa é um santo remédio
Pro mau humor
Essa é pro chofer de táxi
Não cochilar
Essa é pro querido ouvinte
Do interior

É possível fazer uma síntese de nossa história recente, utilizando apenas as letras de Gilberto Gil, da mesma forma que é possível reproduzir, com poesia, aspectos da nossa vida quotidiana lançando mão das letras de Nelson Cavaquinho ou, se preferirmos, uma versão mais sofisticada com trechos da obra de Chico Buarque de Holanda e Caetano Veloso; em casos extremos é possível sintetizar as inquietações da juventude contemporânea com as letras do Chorão, da Banda Charlie Brown Jr. Disso, qualquer cidadão comum pode entender e escolher um compositor de sua preferência. Esse fato, além de provar a importância do artista brasileiro, indica que para cada político profissional que tenha se destacado existem ao menos mil artistas com a mesma ou maior relevância. Esse paradoxo chegou ao limite, nos dias atuais, quando um seguimento tão importante na vida Nacional, como os trabalhadores da Cultura e os diretos responsáveis pela existência da identidade do Brasil, corre um sério risco de se diluir meio aos interesses distantes do Modus Operandi artístico.

O último grande e perigoso equivoco acaba de acontecer, nessa semana, quando o respeitado jornal Brasil de Fato publica, em sua edição semanal, um artigo prenunciando um triste fim para a atual gestão da Ministra da Cultura que, sequer, completou sessenta (60) dias à frente da pasta, nem mesmo conseguiu ainda formar a sua equipe. O mais constrangedor do miolo desse texto em questão, é que o autor considera a gestão anterior (Gilberto & Juca) como sendo progressista e engajada no processo de transformação do Brasil, enquanto Ana de Hollanda "a manifestação do atraso". A fundamentação que o autor utiliza para sustentar esta sua tese é toda baseada no "ouvir dizer"; ele é militante do movimento Cultura Digital que merece, mais do que respeito, uma análise profunda sobre as conseqüências de a partir de agora ser esse seguimento (produção de solftware livre) engolido pela frágil estrutura da pasta que regula e incentiva as ações, artísticas e culturais, no Brasil. É preciso, antes de qualquer coisa uma espécie de análise do "impacto ambiental" na Cultura. Em poucas palavras, seria prudente abrir uma discussão sobre a conveniência e assertiva do MINC em absorver essas atividades que misturam interesses da Industria Digital e certos aspectos da Comunicação Social (Imprensa). É temeroso para o Ministério da Cultura assumir os problemas de um movimento que nada tem a ver com a criação artística muito menos de expressão, Nacional, pulverizando seus parcos recursos e a sua precaríssima infra-estrutura. Esta é a manga que precisa ser chupada!

Há muito pouco a contestar sobre os argumentos levantados pelo autor de "Revés no Ministério da Cultura", pois a maioria deles já foi respondida em debates anteriores, mas tudo indica que o ele não teve à preocupação de ler o que pensam aqueles que defendem a escolha da atual Ministra, tão pouco se preocupou em responder a essas questões. No segundo parágrafo, por exemplo, ao comentar a indicação de Ana de Hollanda, ele se manifesta com o autêntico revanchismo fazendo uso de expressões do tipo "foi demitido", referindo-se a Antonio Grassi (atual presidente da FUNARTE), ao mesmo tempo em que "enquadra" o ator e diretor como "integrante de um grupo político do PT". Como todos sabemos, a Presidente Dilma pertence aos quadros do Partido dos Trabalhadores. Ou não? Já sobre os ex-ministros (Gilberto & Juca) não podemos dizer o mesmo, pelo contrário, ambos pertencem ao Partido Verde e dentro da administração contavam com o irrestrito apoio de um outro partido (PCdoB), atualmente "quase em rota de colisão com o governo Dilma".

Não se trata de desqualificar o adversário, pelo contrário, queremos qualificá-lo e identificá-lo e, para tanto, marcamos aqui o link (http://www.forumdemidialivre.org/?page_id=482) que levará á sua formação profissional. O que podemos adiantar, é que o mesmo nada tem a acrescentar ao que tradicionalmente se conhece como "produção artística e cultural". O fato de estar ou não à frente de um `ponto de cultura', talvez signifique que a precária estrutura de que dispõe o Ministério da Cultura tenha provocado mais uma de suas inúmeras distorções, verificadas na gestão anterior (ou não!!!). O que podemos afirmar, com segurança, é que o autor desse texto, publicado no Brasil de Fato, é formado em jornalismo e como tal deve ter uma opinião formada a respeito de um engodo conhecido como Portal Contas Abertas, veículo que está a serviço de um Deputado Federal do PPS, pelo Distrito Federal, que tem servido como pauta á grande imprensa, especialmente á Folha de São Paulo e, recentemente, também à TV Globo, eliminando dessa forma a fonte da notícia. Trata-se de uma espécie de "lavagem da notícia", em outras palavras um "esquenta fofoca". O esquema consiste em, periodicamente, um funcionário do PCA fazer uma "pesquisa" pela Internet, nos próprios Portais do governo Federal que disponibilizam informações para o grande publico, e dali `pinçar' informações fora de contexto publicando-as no Portal Contas Abertas, geralmente lançando confusão, uma vez que interpreta segundo os interesses da oposição aos governos Lula e Dilma. A partir daí, é só a Folha preparar uma "matéria" repercutindo o Portal, "segundo o que foi publicado no Portal Contas Abertas que analisa a aplicação de recursos públicos" eliminando, assim, o ritual de se ouvir o outro lado.

Não queremos aqui, de forma alguma, comparar o Brasil de Fato ao engodo `Contas Abertas', pelo contrário, a maioria dos artigos e textos publicados ali, vem alimentado o alto nível da discussão sobre os problemas Nacionais, até porque não está em julgamento o Jornal em questão; mas indagamos se alguém já pensou que a blogosfera, que se gaba de ser uma alternativa aos veículos de Comunicação, não está usando dos mesmos métodos criticado acima, pois reproduz a "indigência intelectual". Publica-se uma matéria, sem nenhum rigor jornalístico em um blog qualquer, em sua maioria opinativa e baseada em "interpretações"; e os atingidos que se lasquem. Os atingidos que vá correr atrás das centenas que repercussões dessas "interpretações" e responder uma a uma. Os textos publicados sobre o MINC nas últimas semanas, por exemplo, são forjados em suposições encobrindo, por outro lado, o estrago "ambiental" cometido pela gestão anterior. Mas, imaginamos que seja, no mínimo, constrangedor para a atual gestão vir a público denunciar essas possíveis distorções, ainda que no terreno de equívocos políticos. Nenhuma pasta do governo Lula trouxe á público as barbaridades cometidas nos oito (8) anos de FHC, e por que então o MINC deveria fazer a respeito do seu antecessor? Não perguntamos á Ministra, mas se o fizéssemos ela teria o direito e o dever de nada comentar. Quanto a nós, devemos trazer á luz dos refletores o que se passa nos bastidores, dando nomes aos bois, é claro.

O que mais surpreende nesse qüiproquó que se armou, deliberadamente, foi o de dar como peso único e absoluto o engajamento político e partidário, na troca de titular da pasta. Isso, além de ser um erro infantil, pois a presidenta Dilma e todos os seus ministérios governam para a sociedade brasileira, que é pluralista; nem progressista, nem conservadora, mas o resultado de um jogo Democrático para o qual tanto lutamos. Segundo sabemos, estamos vivendo um Regime Democrático baseado nos direitos sociais e numa economia de mercado e todas as conseqüências que essa opção provoca. Nunca é demais lembrar uma das frases ditas por Lula, na tarde de 13 de Maio de 1989, quando num grande comício no Paço Municipal, em São Bernardo do Campo, dava início á sua longa e sofrida trajetória até chegar ao Planalto - "vamos ganhar no campo deles, com o juiz deles e com a torcida deles". Provavelmente, o autor do texto "Revés no Ministério da Cultura", também não tenha tido conhecimento do que encerrava esta frase desse Metalúrgico que veio a mudar definitivamente a História do Brasil.

Não nos parece que tenha havido nenhum retrocesso, com a entrada de Ana de Hollanda no MINC, pelo contrário. Desde 1989 e até muito antes, os artistas estavam ao lado das forças populares e progressistas. Ali estávamos, no palanque, ao lado de Lucélia Santos, Paulo Betti, Betty Faria, enquanto o Brasil cantava, "Brasil mostra tua cara...". Estão vendo, o quanto o artista é necessário á Nação Brasileira? E, "Salve o compositor popular"(**).

Jair Antonio Alves - dramaturgo - São Paulo
seg, 21/02/2011

(*) Composição de Gilberto Gil
(**) Composição de Caetano Veloso

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